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sábado, 29 de agosto de 2009

Mãe é a mãe, pô!!!!!!

Só gosto de ser chamada de “mãe” por minha filha. Na voz dela toda e qualquer variação da palavra me deixa feliz na hora: mãe, mamãe, manhê. Tanto faz. Agora, marmanjo me chamando de mãe.... não dá né?

Tudo começou quando minha filha nasceu. Na maternidade, as enfermeiras entravam no quarto e iam falando “Tudo bem, mãe?”, “Mãe, hora do almoço”, “Preciso ver o curativo, mãe”. E eu ia me sentido algo entre acabada, irritada e p*** da vida. Mas, entendia que elas não faziam por mal e segurava o ímpeto de responder “mãe é a mãe”. O que seria uma grandessíssima verdade. Caramba! Elas tinham minha ficha na mão. Meu nome estava na ficha. Meu nome estava na porta do quarto. Meu nome estava na minha pulseirinha. Meu nome é fácil. Custa me chamar por meu nome, cáspita?

A mesma coisa em consultórios médicos. “Sua vez, mãe”, “Pode entrar mãe”, “Preciso de sua assinatura, mãe”. Meu nome estava lá, ao alcance, a disposição. Por que me chamar de mãe?

Fiquei pensando na razão que leva pessoas sensatas a crerem que é agradável para uma mulher adulta ser chamada de mãe por estranhos. Eu me sentia infantilizada e desprovida de minha identidade e de minha história. De repente era como se tudo que eu tivesse feito, realizado ou sonhado nos meus 30 anos de vida anteriores valessem nada.

Concluí que isso vem do tempo em que tudo o que movia uma mulher era o desejo de ser mãe. Este era o objetivo último da vida. Isto era tudo o que importava e somente isto. Então, chamar uma mulher de mãe era destacar que seu grande sonho fora realizado. Que seu título supremo fora conquistado, enfim. Era algo como “majestade” ou “excelência”. Agora, vamos combinar que os tempos mudaram? Pode ser?

Eu adoro ser mãe. Mais do que eu julgava ser capaz. Mas o fato de ser mãe e de gostar disto não resume minha existência. Não anula o fato de eu ser também filha. De eu ser também esposa. Namorada. Profissional. Interessada por línguas estrangeiras. Leitora voraz e compulsiva. Gourmet, gourmand, comilona mesmo. Inconstante. Leal . Mordaz. Sarcástica. Tímida. Ansiosa. Continuo querendo um monte de coisas. Continuo querendo viajar. Quero viajar muito. Quero cruzar os Andes de moto. Quero percorrer a Provença de bicicleta. Quero fazer arco e flecha. Tiro esportivo. Correr uma prova de 10K sem morrer. Fazer faculdade de linguística. Abrir a livraria mais linda do mundo, com uma cafeteria de sonho. E, além disso tudo, ser também uma boa mãe. Mas para meus filhos e somente para eles.

Ok, ninguém de obrigação de saber dos meus sonhos e interesses. Ninguém tem obrigação de adivinhá-los. Mas também ninguém tem o direito de pressupor que eles não existem.